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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Jobim e os esquerdistas
A montagem do novo ministério marcha de forma bastante razoável, conforme o etos do lulismo de resultados. Duas grandes superações, para registro: a saída de Henrique Meirelles do Banco Central é digna de comemoração; dois, a "refundação" do Ministério das Comunicações e a consequente varrida da rede Globo do mesmo, depois de quatro décadas de domínio pleno e absoluto, é igualmente de se festejar.
A saída de Meirelles significa dizer que a Carta aos Brasileiros, o pacto entre Lula e os banqueiros de 2002, caducou? Ainda não sabemos. O que sabemos é que o País precisa rever a hegemonia acachapante do capital financeiro sobre a economia e sobre a política brasileira. Não é possível dar consequências e extensões à democracia substantiva que queremos com a atual força desestabilizadora dos bancos e dos rentistas. A república enfraquece na razão inversa do fortalecimento do capital financeiro. Num país onde há tamanha concentração de poder e dinheiro não se pode esperar grandes avanços e conquistas para as classes não-proprietárias. Políticas mitigadoras e compensatórias - como as implantadas pelo lulismo - têm um limite, seja temporal, seja político mesmo. Não se pode fugir da luta de classes o tempo todo. A realidade bate à nossa porta, mais cedo ou mais tarde.
Só ainda não consegui entender e assimilar é a permanência de Nelson Jobim no Ministério da Defesa e a saída de Celso Amorim do Itamaraty.
Claro, são motivações diversas, mas que ao juntarmos dá um contraste acentuado em favor de Amorim e em desfavor de Jobim. O ministro Jobim é um medíocre, não representa sequer o partido a que pertence, o PMDB, sem esquecer que trata-se de um reacionário de quatro costados. Sabe-se que a Defesa será desonerada das funções da Aviação Civil, diminuindo o poder do ministro e reduzindo-o à convivência com militares com sonhos napoleônicos e demais irrelevâncias (a escolha e compra de aviões e armamentos já não lhe competia, tinha apenas função homologatória formal). Assim, pelo andar da carroça, a Defesa pode virar uma grande Delegacia de Narcóticos (DeNarc) dos estados brasileiros, mandando tropas das forças armadas como braço-auxiliar das polícias civis e militares a combater traficantes recalcitrantes, seja através das UPP's, seja em ações bélicas como as do Rio de Janeiro. Já se vê que Nelson Jobim encontrou, finalmente, a sua verdadeira vocação policial-repressiva.
A saída de Celso Amorim só pode ser entendida se for para promover um salto de (mais) qualidade à diplomacia brasileira, tão destacada e reconhecida (para o bem e para o mal) no mundo todo. As relações com a Casa Branca não estão nada róseas, ao contrário, segundo documentos divulgados pela WikiLeaks ontem, há uma indisposição em Washington pelo fato de o Brasil não ter montado dispositivos legais e repressivos contra a paranóia estadunidense que é a chamada "ameaça terrorista". Como se o Brasil tivesse obrigação de ser solidário na paranóia alheia.
Um telegrama de novembro de 2008 do então embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, à Washington considerava que o Brasil não tem política antiterror por responsabilidade da ex-ministra Dilma Rousseff e, citando um especialista, afirmava que seriam mínimas as chances de ter essa legislação porque o governo Lula estava "amontoado de militantes esquerdistas".
Esquerdistas? Será que o embaixador estava se referindo ao ministro Jobim? Ou esquerdista seria o ministro Hélio Costa, ex-celetista da TV Globo e eterno servidor da família Marinho?
Portanto, mais um motivo para a futura presidenta evitar dissabores com a Casa Branca: Presidenta, evite os "esquerdistas", por favor.
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6 comentários:
Não foi bem assim:
"Asked to confirm a news item in the daily newspaper Correio Braziliense noting that Minister Dilma Rousseff (chief of staff to President Lula in the Casa Civil) had quashed the proposal, Alvarenga equivocated, suggested that several "clients" had weighed in, including the Ministry of Justice. In the end, he did not deny the news report, stating that the decision had been a "political" one."
caro gauche,
acho que os esquerdistas do governo lula eram geddel vieira lima, reinhold stephanes, walfrido mares guia, edson lobão (que, do mesmo modo que a folha de são paulo, considera que houve uma ditabranda no Brasil), além de roberto rodrigues e, claro o meirelles, no banco central.
se o tuma não poderia mais estar na policia, o filho dele pegou o bastão. nunca antes na história deste país tanto esquerdista no governo, conforme todos podem constatar...
Concordo, meu prezado anônimo.
CF
Vendo a foto nao posso deixar de lembrar que o Brasil pretende comprar avioes de guerra...
Existe coisa mais cretina??
Como se pode pensar em guerra se as armas devem ser compradas?? E se o inimigo for o construtor das armas??
Se as armas devem ser COMPRADAS, é muito mais inteligente fazer um balanço financeiro dos dois paises que pretendem declarar guerra, um ao outro, o que tiver maior saldo positivo vence!!!
Obvio, sera o pais mais rico o que podera comprar mais armas, inutil matar gente e destruir um pais para decidir uma guerra hoje em dia.
Ou produzimos nossos proprios armamentos e meios de locomoçao belicos (navios, avioes, blindados etc), ou nao devemos nos meter em briga.
Foto do JOBIMILICOBRA
http://www.luizberto.com/wp-content/nelson-jobim-sucuri.jpg
"A saída de Celso Amorim só pode ser entendida se for para promover um salto de (mais) qualidade à diplomacia brasileira, tão destacada e reconhecida (para o bem e para o mal) no mundo todo." Por favor, não coloquemos em risco o que existe de boa vontade e honestidade em nome da "vontade de acreditar"...
Entendamo-nos, senhores: a eleição ACABOU --- o Business Intelligence (BI), agora, ocupa obscenamente o primeiro plano: um dos preferidos da The Economist foi para a Casa Civil --- alguém se lembra disso?
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