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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Era um homem de luta, não de transações


O legado de Néstor Kirchner

[...] Quero recordar três aspectos de sua obra e de sua mensagem. O primeiro é que foi um dos democratas mais radicais que a Argentina produziu em anos recentes. Nunca tentou impor uma vontade burocrática, mas que sempre buscou nas mobilizações espontâneas dos grupos de base os aliados naturais através dos quais podia pensar, repensar e matizar seu projeto. O segundo é que nunca fez interpelações fáceis à massas desorganizadas, mas sim que compreendeu que, nas complexas sociedades contemporâneas, qualquer projeto de mudança tem que passar pela transformação interna das instituições.

Não sei se Néstor haverá lido Gramsci, mas em todo o caso sua ação política mostra algo de profundamenta gramsciano: a compreensão de que, nas sociedades contemporâneas, não há populismo fácil; que, sem a mediação institucional, não há projeto político coerente. Neste sentido ele mostrou, através da sua ação política, algo que sempre pensei: que entre institucionalismo e populismo sempre há uma complexa negociação, os resultados das quais apresentarão matizes distintos em diferentes sociedades.

Há, finalmente, uma terceira dimensão que é decisiva para entender o legado de Kirchner: sua firmeza de aço, seu compromisso total com as causas que abraçava.

Era um homem de luta, não de transações. Isto é que indignava a seus detratores e o que denominavam de tendencia "a dobrar a aposta". Creio que se tratava de algo mais importante que isso. Ele tinha perfeita consciência da natureza das forças que enfrentava, e sabia que somente uma força inquebrantável seria capaz de confrontá-las.

Que nos resta por fazer daqui para a frente, depois de Néstor? A resposta é clara: prosseguir a sua obra e completar a sua tarefa. Ele nos legou objetivos que são maiores que a sua e a nossa vida, e que incluem todo o nosso continente. [...]

Trecho de artigo do intelectual argentino Ernesto Laclau, professor de Teoria Política da Universidade de Essex, Inglaterra. Publicado hoje (4) no jornal portenho Página/12

Leia-o aqui, na íntegra (em espanhol).

Um comentário:

jose grisa disse...

Ao contrário do nosso Lula, que era um homem de luta e virou um homem de transações, assessorado pelo consultor José Dirceu. Taí talvez a explicação de porque muito brasileiro não goste dos irmãos argentinos. Lá tem político que não se compra e não se vende.
Grisa

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