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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 28 de novembro de 2010

A Companheira



Mais do que nunca a poesia, hoje, mais que nunca, com seu exorcismo de chacais, com uma chama purificadora e sua memória obstinada.

Açoitada por uma história vertiginosa, onde nos perdemos no redemoinho astronômico da informação, a poesia mais do que nunca: seus olhos seletores fixando o que não temos o direito de esquecer, salvando pássaros, instantes mágicos como o brilho de luzes cintilantes, como auroras soberbas, luas, a beleza, a dignidade da vida.

Mais do que nunca, ali onde abutres de fora e de dentro assanham-se contra os olhos abertos de um povo, arrancam e destroçam as flores do sorriso e o sonho: caricaturas de si mesmos, milionários e coronéis cheirando à morte; contra eles, mais que nunca, a poesia.

Na memória dos homens que lutam, ela é sempre uma fonte de armas, a chama do fogão e a espessura dos montes, o trago d’água, a que estende a mão à batalha e ao repouso.

Mais que nunca a poesia, porque nela faz ninho o futuro.

Julio Cortázar

Um comentário:

Nelson disse...

Lindo ou, à maneira do Renato Russo, "muito lindíssimo".

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