Mapa
Me colocaram no tempo, me puseram
uma alma viva e um corpo desconjuntado.
Estou limitado ao norte pelos sentidos, ao sul pelo medo,
a leste pelo Apóstolo São Paulo, a oeste pela minha educação.
Me vejo numa nebulosa, rodando, sou fluido,
depois chego à consciência da terra, ando como os outros,
me pregaram numa cruz, numa única vida.
Colégio. Indignado, me chamam pelo número, destesto a hierarquia,
me puseram um rótulo de homem, vou rindo, vou andando aos solavancos.
Danço, rio e choro estou aqui, estou ali, desarticulado,
gosto de todos não gosto de ninguém, batalho com os espíritos do ar,
alguém da terra me faz sinais, não sei mais o que é o bem nem o mal.
Murilo Mendes (1901-1975)
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