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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Yedismo de fracassos arma maracutaia de arromba


Interesses privados por trás do silêncio da RBS

Deu no blog Jornalismo B:

Hoje não vou falar sobre nada que eu tenha lido, ouvido ou visto nos jornais por aí. Vou falar sobre o que eu não vejo, não ouço, não leio. Não lembrava de ter visto na Zero Hora, por exemplo, mas, para não ser injusta, fui ao canal de busca do site. Mas minhas impressões se confirmaram: a informação mais recente que encontrei sobre a possível alienação ou permuta do terreno da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase), que pertence ao estado do Rio Grande do Sul, é datada do dia 11 de março. E tem míseros dois parágrafos. Antes dessa, uma notinha de iguais dois parágrafos do dia 23 de fevereiro, louvando a iniciativa do governo Yeda.

O projeto de lei 388, que autoriza a alienação ou permuta de um terreno de 74 hectares localizado na avenida Padre Cacique, quase em frente ao estádio Beira-Rio – ou seja, extremamente bem localizado, principalmente se considerarmos a iminência de uma Copa do Mundo -, com um vasto patrimônio ambiental e histórico, seria votado hoje [23/3], caso tivesse havido quórum, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do RS.

Além do patrimônio riquíssimo que o governo quer entregar para a iniciativa privada, o terreno tem também pelo menos 10 mil pessoas que moram ali e não estão sendo ouvidas. A ideia é trocar o terreno por outros menores, com o suposto objetivo de descentralizar a Fase, mas não há planejamento para isso, e a imprensa se cala. Mais informações sobre o caso nos [blogs] Somos Andando e RS Urgente, e no [diário] Jornal do Comércio.

É possível que o governo entregue a última área que ainda conserva vegetação típica de Porto Alegre para construtoras, mas a mídia não diz. Sei que a Band cobriu alguma coisa na rádio. Sei que o Marcelo Noah está se esforçando na Ipanema para fazer alguma divulgação. Fora isso, silêncio (peço perdão se faltou citar alguém, mas não dou conta de rastrear toda a cobertura da imprensa, sei apenas que foram pouquíssimos os que noticiaram).

A explicação óbvia seria por si só bem plausível diante do que estamos acostumados a ver na imprensa: interessa mais valorizar a iniciativa privada nos meios de comunicação. Não interessa o que pode ser bom para a população. Ainda mais se quem tiver proposto o projeto for um governo amigo. É sempre bom preservar esse tipo de amizade. Amizades poderosas.

Mas a coisa vai mais longe: os Sirotsky, a quem pertence o maior, quase único, grupo de comunicação do Rio Grande do Sul, a RBS (conhecido por alguns como PRBS, por conta de suas características de partido político nas atitudes que toma), são também donos de uma empresa chamada Maiojama (uma mistura breguíssima dos nomes MAurício; IOne, mulher de Maurício; JAyme; e MArlene, mulher de Jayme). A Maiojama é uma construtora, ou melhor, como diz em seu site, “atua no planejamento e desenvolvimento de edificações residenciais, comerciais, flats e shopping centers”.

Agora peço um esforço mínimo de dedução lógica dos leitores: o governo do estado quer entregar um terreno por um valor muito abaixo do de mercado; o terreno é gigante, muito bem localizado, num dos pontos atualmente mais disputados de Porto Alegre; seria perfeito, do ponto de vista empresarial, para construir um grande complexo, que poderia envolver dúzias de torres de apartamentos, comércio, shopping, mil coisas; quem faria isso seria uma construtora; os Sirotsky têm uma construtora; os Sirotsky têm um grupo de comunicação; o grupo de comunicação se cala diante de um empreendimento que pode prejudicar a população. Logo, há um grande interesse por trás que orienta o silêncio absolutamente antiético da empresa de comunicação.

A ética jornalística manda colocar o cidadão em primeiro lugar e não se deixar corromper. Os interesses privados não podem transpor os coletivos. Ou seja, a RBS adota uma postura nitidamente, escancaradamente, maldosamente antiética.

* Peço aos blogueiros que ajudem a divulgar o roubo que está sendo tramado ao patrimônio público. Diante do silêncio da grande imprensa, nós temos a obrigação de nos unir e lutar pelos interesses da cidade.

Artigo da jornalista Cris Rodrigues.

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Depois dessa, se você ainda tem estômago (recorra ao sal de frutas), leia também "A largada na temporada de bandalheiras 2010, no RS".

E o deputado estadual petista Fabiano Pereira, hein? Já tem posição sobre esse assunto cabeludo e pegajoso?

7 comentários:

Gilmar da Rosa disse...

Deputado, quem???

Azarias disse...

É o jeito tucano de governar. Aqui no Estado de São Paulo acontece a mesma coisa. Aqui o ataque é encima de prédio escolares (desde Mário Covas). Bairros que possuem duas ou mais escolas, ficam com uma, as outras são vendidas ou trocadas com a iniciativa privada.
Ninguém comenta, nem a "oposição" e nem a imprensa alternativa.

Anônimo disse...

A resistência dos moradores do grande morro Santa Tereza já começou. Só com muita luta o povo vai conseguir frear o processo de higienização urbana que a copa vai trazer a Porto Alegre.
Assista ao vídeo da luta dos moradores em www.levantepopulardajuventude.blogspot.com

Marli disse...

Voces lembram daquela vila atras da Zero Hora que incendiou alguns anos atrás? A área virou estacionamento privativo de funcionários da ZH. Marli

Carlos Eduardo da Maia disse...

Gente, essa área vai ser licitada e diversos interessados vão participar do certame. Como é que se pode dizer, de antemão, que a área vai ser vendida abaixo do preço de mercado, se a licitação ainda não ocorreu? Recentemente o governo Yeda vendeu, por licitação, uma área abandonada, a da Corlac e a venda foi um sucesso, por 13, 6 milhões. Essa área da atual Fase tem mais é que ser vendida para que ali a iniciativa privada construa prédios para melhorar a qualidade de vida de Porto Alegre, com a necessária contrapartida e respeito ambiental. Isso tem de ficar bem claro no edital. O interessante é que ninguém reclama da área pública que está do outro lado da Av. Padre Cacique que é tomada por prédios horrorosos que estão estabelecidos de forma irregular e que devem ser removidos para que ela se incorpore ao parque que ali existe.

Ismael do Nílzo. disse...

Os blogs e assemelhados tem muito maior audiencia que a RBS:Pau na RBS e boca no trombone através dos blogs! E fica ainda mais fácil pra essa 'MIJORAMA' quando há o futebol envolvido:A opinião publica faz olho branco e deixa roubar mesmo!!(E"foda-se quem mora nessa região.Que vá se queixar pro BISPO!"hehe... A RBS vai levar essa(mais essa!!)! RBS( REDE BARGANHA SURRUPIADA)

Anônimo disse...

Sabe aquele sonho de guri? Papai um dia disse, no alto de um morro numa cidade alegre: "- Um dia isto tudo será teu." O menino acreditou, cresceu e realizou a profecia de seu pai. Comprou o pé do morro.

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