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segunda-feira, 8 de março de 2010

Lulismo de resultados é anfíbio em política agrária


Cinismo e ambiguidade

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assentou 580 mil famílias em 47 milhões de hectares de terra de 2003 a 2009. Foram construídas e recuperadas 382 mil casas. Por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), mais de 353 mil assentados tiveram acesso à escola. Para o presidente do Incra, Rolf Hackbart, os dados mostram o compromisso do governo federal em priorizar a reforma agrária. “Se isso não é prioridade, eu não sei o que é.” A informação é da Agência Brasil.

Apesar dos números apresentados pelo governo, os movimentos sociais afirmam que a reforma agrária, na prática, está paralisada. “O governo abandonou um projeto estratégico de reforma agrária”, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Batista de Oliveira.

Os números de famílias assentadas são contestados pelo especialista na questão agrária brasileira Ariovaldo Umbelino, professor de geografia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o governo contabiliza todas as famílias que receberam títulos de terra como beneficiários da reforma agrária e, com isso, os números sofrem distorções que mostram a distribuição de terras três vezes maior do que a real. “Desde o Fernando Henrique o governo começou a contar todo mundo como sendo da reforma agrária, e não é”.

De acordo com o professor, parte dos que recebem títulos já tem direito legal sobre a terra e por isso a regulamentação é apenas uma obrigação do Estado. “No caso do posseiro e do ribeirinho, é regularização fundiária, eles já estão na terra. As leis brasileiras já lhes garantem o direito sobre aquela área.”

O presidente do Incra defende a metodologia alegando que as famílias que recebem titulação passam a ter acesso às políticas públicas implementadas pelo governo. “Evidentemente que eu vou contar uma família que está em um assentamento. Tem lotes vagos nesse assentamento. Eu tiro as famílias da lona e coloco nesses assentamentos, claro que eu vou contar. Porque essas famílias começam a ter direito à assistência técnica, à casa.”

O professor da USP acredita que as políticas do governo estão corretas, mas que há erro na nomenclatura. “O governo está certo em fazer o que ele está fazendo. Tem que reconhecer mesmo, tem que dar acesso, tem que fazer as políticas chegarem. Mas isso não é reforma agrária”, reforça Umbelino.

Além da redistribuição de terras, a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Isolete Wichinieski, afirma que faltam políticas para propiciar um desenvolvimento mais justo no campo. “Há algumas políticas que já existem como a questão do crédito, que contribui para que o trabalhador possa ter subsídios para conseguir uma produção. Mas não basta isso, é necessário saúde, educação e lazer.”

Para ela, parte dos recursos do governo tem sido direcionados na direção contrária à reforma agrária. “O investimento que o governo faz para atrair capital estrangeiro tem aumentado muito a expansão do agronegócio.”

Como exemplo, o historiador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Clifford Welch cita os recursos investidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em grandes empresas agropecuárias. “Não é algo que vai ajudar no processo de reforma agrária. Um processo de concentrar riquezas nas mãos de poucas pessoas e criar dificuldades para os pequenos produtores”, destacou.

Segundo o presidente do Incra, entretanto, o governo federal procura priorizar o desenvolvimento sustentável do campo focado na produção de alimentos. “A prioridade do governo em termo de recursos não é para esses setores [agronegócio]. Agora, evidentemente, o dinheiro é para produção, e o modo de produzir depende muito do produtor”, disse Hackbart.

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"O dinheiro é para produção, e o modo de produzir depende muito do produtor" - diz o presidente do Incra, Rolf Hackbart.

São palavras de um cinismo tocante, quase pungente.

Observem bem: uma maneira de se expressar que não difere da direita, para não referir que o ministro da Agricultura do lulismo é um sujeito absolutamente de direita, o deputado paranaense Reinhold Stephanes, ex-ministro do general Ernesto Geisel. Uma maneira de se expressar que se quer esperta, astuciosa, jogando com eufemismos para evitar o núcleo da questão. Uma maneira de se expressar que despreza os seus interlocutores, porque rebaixa o debate ao nível de uma conversa infantil.

"Depende muito do produtor" - esconde de propósito o caráter de classe da agricultura brasileira, marcadamente dividida entre o agronegócio parasitário, predador ambiental e que não vive sem subsídio estatal (e créditos bancários estatais que jamais honrará), e a agricultura familiar/camponesa, prensada entre os grandes fornecedores e suas escalas de negócio e o mercado interno sujeito às intempéries, às dificuldades de escoamento das safras, os grandes varejistas e o crédito escasso.

5 comentários:

Marcelo disse...

Beihh,
que bofetada, hein?

Cláudio E disse...

Cristóvão
Se existe algo que bem caracteriza esse blog, são as excelentes fotos que o encimam. Qual não foi minha surpresa ao abrir o blog e ver este horror. O que está acontecendo? Alguma crise existencial? Brigaste com a frau no fim de semana? Assim não dá, assim não pode!!

Nelson Antônio Fazenda disse...

Se o Zé Simão souber dessa declaração do Hackbarth, certamente vai concluir que "tucanaram o Incra".

Anônimo disse...

deputado federal, representando o Estado do Paraná, nos períodos de 1979-1983, pela extinta ARENA, 1983-1987, pelo PDS, 1991-1995, pelo PFL; 1995-1999, também pelo PFL; 2005-2006, pelo PMDB, tendo sido reeleito para a legislatura 2007-2011, é o pragmatismo que nos aflinge . . .

Anônimo disse...

" Lulismo de resultados é ANFÍBIO em política agrária"
É por isso que chaman ele de sapo barbudo.

Joubert

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