O inimigo da moral
O maior inimigo da moralidade não é a imoralidade, mas a parcialidade.
O primeiro atributo dos julgamentos morais é a universalidade. Pois espera-se de tais julgamentos que sejam simétricos, que tratem casos semelhantes de forma equivalente. Quando tal simetria se quebra, então os gritos moralizadores começam a soar como astúcia estratégica submetida à lógica do "para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei".
Devemos ter isso em mente quando a questão é pensar as relações entre moral e política no Brasil. Muitas vezes, a imprensa desempenhou um papel importante na revelação de práticas de corrupção arraigadas em vários estratos dos governos. No entanto houve momentos em que seu silêncio foi inaceitável.
Por exemplo, no auge do dito caso do mensalão, descobriu-se que o esquema de corrupção que gerou o escândalo fora montado pelo presidente do maior partido de oposição. Esquema criado não só para financiar sua campanha como senador mas (como o próprio afirmou em entrevista à Folha) também para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu candidato.
Em qualquer lugar do mundo, uma informação dessa natureza seria uma notícia espetacular. No Brasil, alguns importantes veículos da imprensa simplesmente omitiram essa informação a seus leitores durante meses.
Outro exemplo ilustrativo acontece com o metrô de São Paulo. Não bastasse ser uma obra construída a passos inacreditavelmente lentos, marcada por adiamentos reiterados, com direito a acidentes mortais resultantes de parcerias público-privadas lesivas aos interesses públicos, temos um histórico de denúncias de corrupção (caso Alstom), licitações forjadas e afastamento de seu presidente pela Justiça, que justificariam que nossos melhores jornalistas investigativos se voltassem ao subsolo de São Paulo.
Agora volta a discussão sobre o processo de privatização do governo FHC. Na época, as denúncias de malversações se avolumaram, algumas apresentadas por esta Folha. Mas vimos um festival de "engavetamento" de pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da União, assim como CPIs abortadas por manobras regimentais ou sufocadas em seu nascedouro. Ou seja, nada foi, de fato, investigado.
O povo brasileiro tem o direito de saber o que realmente aconteceu na venda de algumas de suas empresas mais importantes. Não é mais possível vermos essa situação na qual uma exigência de investigação concreta de corrupção é imediatamente vista por alguns como expressão de interesses partidários. O Brasil será melhor quando o ímpeto investigativo atingir a todos de maneira simétrica.
Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. Publicado hoje na Folha.
10 comentários:
Quem sabe...!? Mas se realmente for o último será lamentável.
O professor Safatle colocou o dedo na ferida. A grande imprensa brasileira, conhecida também como PIG, é totalmente assimétrica.
Para o DEM e PSDB "tudo" para o PT e aliados de ocasião "a Lei".
Agora, no UOL, começou a vir a luz notícias desabonadoras sobre Kassab, coisa que não acontecia quando ele estava no DEM."
É por essas e por outras que nunca assinei a "ditabranda de SP e cancelei minha assinatura do UOL.
feil
Poderias publicar uma resenha do ex petista Ivo Patarra sobre as putarias dos seus amigos e, quem sabe, suas também.
Trata-se do livro O Chefe, boicotado em cloara censura branca á livre expressão e que recebeu do frei beto (insuspeito por, apesar de tudo, apoiar esta camarilha da qual fazes parte) "nem a ditadura militar conseguiu desmoralizar tanto a esquerda, quanto estes seus dirigentes".
Vai que é sua Feil!!
Os canalhas não têm simetria.
armando do prado
O parcial Safatli teve o cuidado de pinçar três exemplos de suposta corrupção tucana no artigo. O comentário causa espécie, porque, como diz o "cara", nunca antes na história deste país, um governo teve 6 ministros demitidos, num ano, por suspeita de corrupção.
Esse sim é um fato extraordinário. E esses ministros caíram não por conta da nossa fraca, fraquérrima oposição, mas porque a mídia investigou, foi atrás. E, vejam só, alguns querem calar a mídia, fazer o chamado "controle social", que interesses defendem?
Por que o parcial Safatle não tece nenhum comentário sobre esse fato atual, candente?
Sim, houve corrupção nos governos tucanos, como se viu no governo Yeda no RS, mas corrupção não é um problema ideológico, como se vê no Brasil de hoje.
Vamos pelear então cada um puchando pro lado que sua ideologia aponta. Os escândalos envolvendo o PT devem ser investigados com profundidade pois são realmente veros. Agora, os escândalos tucanos não, são meras acusações sem comprovação, mal documentadas, Aloisio Biondi, Amaury ribeiro..., também não causaram perdas ao erário e portanto, como muito bem feito pelo Engavetador Geral de Justiça do governo FHC e com o silêncio estrondoso atual da mídia, não merecem atenção e divulgação pública.
É impressionante a cara de pau de determinados comentários postados anteriormente. Falta ética pra esse Maia!!!
Investigue-se ilícitos vermelhos e tucanos e DEMOS, enquanto formos parciais em nossas posturas esse será o país com os políticos que merecemos. Parciais, antiéticos e canalhas.
Caio
Má, má, má, mas, ô seu Asteca, o sr. poderia pensar também que no governo THC, ninguém era demitido pois faltava ao governo postura púbica. O engavetador geral da República não levava a frente os processos de investigação e o presidente botava fumos quentes, ops, panos quentes nos problemas. De Paulo Renato quebrando as universidades a Serra favorecendo laboratórios, tinha muito a ser investigado por imprensa e pelo governo. Mas nem imprensa nem governo, nem tu, seu cara de pau, abordaram os problemas. Então, seu Asteca, vai ver se eu tô na esquina, vai. Cara de pau, safado.
- O Asteca é o Velho Maia que diz ser empresário de um mercadinho lá pelas bandas da Cavalhada?? Que ao invés de trabalhar fica expressando indéias que são originárias do terminal do reto?? Se não for àquele Maia, serve para esse . O ideário é o mesmo.
Já postei comentário semelhante, certa feita, em um outro blog.
Vamos fazer algumas analogias.
A corrupção no governo FHC - isto se só falarmos das ocorridas com as privatizações -, provavelmente, não caberia em um navio de 400.000 toneladas. Já para carregar a corrupção no governo Lula, talvez fossem necessárias "apenas" umas dez carretas três eixos.
Pois, os nossos probos e impolutos órgãos da mídia hegemônica e seus (de)formadores de opinião, fazem com que vejamos o contrário: que a corrupção lulista não há o que a comporte e que a corrupção fernandista seria de pequena monta.
Em tempo. Aos mais apressados, não há, aqui, defesa da corrupção sob Lula/Dilma, mas uma descrição do agir da mídia hegemônica.
É isto ai. Lemin já nos ensinava que devemos acusar nossos desafetos de ser ou fazer tudo aquilo que somos e rotineiramente fazemos. O Mensalão não houve, A cena gravada dos dólares surrupiados sendo transportados nas cuecas é montagem da Mídia, os aloprados criadores de "dossiês" eram pau mandado do Serra, nenhum ministro demetido cometeu irregularidades, foi tudo culpa da Veja.
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