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terça-feira, 4 de junho de 2013

O Brasil produz hoje 23 novos milionários por dia


Onde está o dinheiro?
Franklin Roosevelt (foto), até segunda ordem, não era comunista. Na verdade, ao que tudo indica, o sr. Roosevelt foi presidente dos EUA de 1933 a 1945 sem que ninguém tenha encontrado indícios de que ele estaria envolvido em alguma forma de complô contra o capitalismo e seus grandes empreendedores. Esses mesmos empreendedores que fazem fortunas, como todos nós sabemos, graças exclusivamente ao trabalho árduo e dedicado.

Lembrar do sr. Roosevelt hoje é algo que faz bem. Pois eis aí um dos poucos homens que poderiam ter escrito um livro com o título: "Como salvei o capitalismo de sua pior crise". Tal livro, se existisse, seria uma leitura recomendável para diretores do FMI envolvidos em escândalos de todo tipo, altos executivos de bancos salvos pelo Estado (mas que gostam de ensinar receitas perfeitas de como vencer crises) e, por fim, presidentes de países que um dia foram vistos como promessas de desenvolvimento.

Nele, o velho Franklin poderia contar como, em 1935, passou uma lei de imposto progressivo que taxava os ricos de seu país em até 75% (o estrategicamente esquecido "Revenue Act").

Ele poderia ainda selecionar alguns de seus discursos, como um que foi pronunciado no Congresso americano em 1942, no qual afirmava que "nenhum cidadão deve ter um rendimento líquido, depois de pagar seus impostos, de mais de US$ 25 mil dólares anuais", o que daria atualmente algo em torno de US$ 350 mil.

Com essa política que hoje os grandes sábios da economia chamariam de demente, louca ou simplesmente "comunista", Franklin tirou seu povo da miséria, permitindo ao Estado oferecer serviços públicos básicos para seus cidadãos, fazendo com que eles tivessem mais tranquilidade para planejar seu futuro, assim como dinheiro para consumir e desenvolver seu empreendedorismo.

Mas, se fosse remetido ao Brasil atual, Franklin estaria coçando a cabeça para entender um dos maiores enigmas da humanidade. Petrificado, ele se perguntaria como é possível que, depois de 25 anos, uma lei constitucional que institui o imposto sobre grandes fortunas (artigo 153, inciso VII) simplesmente não foi regulamentada e, por isso, não foi implementada. Uma lei que não legisla: um verdadeiro paradoxo digno da mais astuta dialética.

Juntem, entretanto, dois lados de uma mesma equação: no momento em que a economia brasileira patina e os investimentos do empresariado nacional somem, o Brasil produz 23 novos milionários por dia, atingindo a marca de 155,5 mil milionários.
Agora, façam esta pergunta rooseveltiana: onde está o dinheiro?

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP.

4 comentários:

Clovis Horst Lindner disse...

Genial!

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Sou favorável a que esse imposto seja regulamentado (IGF). Reparo que o Safatle realçou a quantidade de novos milionários, mas não se deu ao trabalho de ver quantos brasileiros ultrapassam a linha da miséria por dia, ou mudam para classes superiores às que se estão. Dá bem mais que 23 ....

Anônimo disse...

Não está longe o dia em que as diferenças entre PT e PSDB deixarão de existir, se é que ainda existam.
A sra. Dilma está perpetrando uma política econômica tão neoliberal quanto a de FHC, com privatização de aeroportos, portos e leilão de jazidas petrolíferas. Agora para completar o quadro, o Conselho Nacional de Previdência Complementar aprovou a resolução de retirada de patrocínio dos fundos de pensão(estes mesmos fundos que foram utilizados de forma espúria na privataria tucana), substituindo a norma que vigorava desde 1988. Além de dar respaldo a uma ilegalidade permitindo o rompimento unilateral de um contrato previdenciário, está resolução nada mais é que uma forma disfarçada de realizar o velho sonho dos neoliberais de meter a mão na fortuna dos fundos de pensão. Quem diria PT, quem te viu e quem te vê?
Quanto a questão tributária, seria cômica se não fosse trágica. Recentemente, os auditores fiscais da Receita Federal obtiveram na Justiça o direito de abater no IR um valor superior aos R$ 3.000,00 (tres mil reais)(?!?) que a legislação tributária permite aos simples mortais, referente despesas com educação. Por aí nota-se a importância que o Estado brasileiro dá a educação.
Estes mesmos auditores, que seguin do ao pé da letra uma legislação tributária regressiva e retrógrada, não têm dó nem piedade de trabalhadores, aposentados, pensionistas e pequenos empresários ao incluir-los na malha fina por quantias irrisórias perto da fortuna que os nababos e plutocratas deste País sonegam diariamente, respaldados por advogados tributaristas regiamente pagos.
Este é o Brasil do PT que veio para mudar e nada mudou. Digo isto tristemente, pois dei minha modesta contribuição (sem nunca ter me filiado) no nascimento do partido ao participar de comitês no final da década de 70 e ínicio de 80 no ambiente universitário e no meu local de trabalho. Hoje o que temos é um Partido invertebrado, que faz de tudo para agradar o deus Mercado, enquanto este mesmo Mercado o ataca diuturnamente de forma aberta e clara.

JADER disse...

Pois eu não era votante ! Agora sou ! Voto no correto e não voto nunca mais no pSDB!! CHEGA !! JÁ ERA !!

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