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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A velha marmita rançosa da mídia brasileira



O jornal britânico Financial Times, uma das bíblias do neoliberalismo, caiu na real, e está fazendo uma série de matérias sobre a crise estrutural do capitalismo, se dando a liberdade de cogitar que estamos experimentando o limiar de um novo sistema de produção, mesmo não se sabendo ao certo aonde iremos.

Esse não é qualquer jornal, o FT é uma publicação que circula desde 1888, tem uma tiragem diária de 2,1 milhões de exemplares, circula em 140 países e tem agências editoriais em 50 países.
     
Corte rápido.

O diário paulistano O Estado de S. Paulo estampou em suas páginas no dia 23 de janeiro último um artigo do ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, onde ele afirma que os altos ganhos salariais são um dos fortes fatores da atual crise econômica da eurolândia. Pronto, sobrou para os assalariados! É inacreditável que a essa altura da crise alguém ainda atribua a mesma a motivações que não as das finanças hipertrofiadas, o descontrole do crédito e a desregulação geral da atividade econômica, em especial a liberdade de ação dos grandes capitais bancários na Europa e no mundo todo. 
    
Observem que enquanto um jornal de reputação internacional – podemos questionar a sua afiliação político-ideológica – trata da crise de forma direta, frontal e corajosa, o outro, um jornal provinciano como o Estadão, insiste em manter um séquito de especialistas em produzir vianda requentada, como se fora algo fresco e atual, para assuntos tão relevantes como a crise do capitalismo.

Essa é a grande dificuldade da mídia brasileira: servir marmita rançosa como se estivesse oferecendo peixe fresco grelhado sobre folhas tenras. O problema não é o proselitismo de direita tout court, o problema é o proselistismo de direita, proferido por velhos funcionários da ditadura civil-militar (como Maílson e tantos outros) envolto no papel engordurado do palpite manjado, da opinião pessoal e interessada travestida de vontade geral e republicana.

Prestem atenção, a mídia está coalhada de indivíduos, colunistas, apresentadores, leitores de telepromter e outros quetais que estão ali para expressarem as vozes dos seus donos (ou dos seus patrões e dos amigos dos seus patrões), entretanto querem representar o papel de porta-vozes do universal, do democrático e do espírito de nosso tempo.

Ainda bem que eles são péssimos atores e atrizes.

Coisas da vida.

Artigo de Cristóvão Feil, publicado originalmente no blog Jornalismo B, agora em campanha de assinatura da sua publicação em papel. Prestigie e contribua com o Jornalismo B.  

4 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Numa boa, Marx disse uma bela frase: tudo o que é sólido se desmancha no ar, mas esse processo chamado capitalismo é como uma hydra de Lerna, ele é resistente, quando o vivente acha que ele está morto e acabado ele retorna com duas cabeças. Muito se critica a época do neoliberalismo, mas até hoje, juro, não sei exatamente o que significa "neoliberalismo". É uma palavra do tipo "comunismo" que ninguém sabe exatamente o que é, porque ela é usada como chavão, como discurso ideológico de massa de manobra do pensamento preguiçoso. No fundo, no fundo, ninguém sabe quais as alternativas para um mundo melhor e possível. O que se sabe, no entanto, é que o estado (o centro de tudo) não pode ser absolutamente livre e ausente, portanto tem sim de exercer seu papel regulador e fiscalizador.

Além disso é essencial que ele implemente, junto com a sociedade civil. política efetiva (e não demagógica) de inclusão social, o que interessa a todos. Será que alguém pode ser contra a inclusão social?

O que estou a dizer, no fim das contas, é que o caminho a verdade e a vida não é ideológico e nem religioso, existem receitas que deram certo nos países socialmente desenvolvidos. Sim, eles estão em crise, mas isso não significa que tudo o que eles fizeram está completamente errado, como alguns simplórios estão a entender.

Nelson disse...

O problema, meu caro Feil, é que estes "colunistas, apresentadores, leitores de telepromter e outros quetais" que apresentam-se como pretensos especialistas, de tanto aparecerem na telinha, acabam cultivando a simpatia do povo. Isto, apesar de estarem "trabalhando" ferrenhamente contra os interesses desse mesmo povo. E essa simpatia se torna tal que, não raro, esses indivíduos, ao se candidatarem a algum cargo eletivo - vereador, deputado, senador -, acabam recebendo uma montanha de votos. Uma vez eleitos e empossados, nos parlamentes vão continuar trabalhado contra o povo e a favor daqueles que pagaram seus salários e financiaram suas campanhas.

Omar disse...

O desemprego brasileiro caiu para 4,7% em dezembro, ante 5,2% em novembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. Com isso, a taxa fechou 2011 com a média de 6,0% , sendo que em 2010 ela havia ficado em 6,7%.

Anônimo disse...

Ma, ma, ma, Maia, que salada tu fez aí, hein? A frase que tu estuprou, a propósito, é do Marx e do Engels.

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