Mais do mesmo na TV a cabo
Não estou nem um pouco animada com a perspectiva de controle de todo o segmento de TV por assinatura pelas empresas de telefonia. O que é ruim, na melhor das hipóteses, continuará claudicante, uma vez que as operadoras de telefonia fixa e móvel destacam-se negativamente nos rankings de reclamação dos consumidores.
A perspectiva, então, é de mais concentração de mercado nas mãos de quem já não respeita o cliente em suas atividades atuais.
Hoje, o consumidor pena para conseguir migrar para pacotes de TV digital, oportunidade da qual as empresas se aproveitam para impor contratos mais caros e com menos canais, ou com menor qualidade.
Também empurram ponto extra para quem não o solicitou, sob a alegação de isenção de pagamento. Na verdade, nas letras miúdas, fica claro que a fatura virá mais adiante, geralmente dentro de um ano.
O consumidor Anderson Martins Borges teve dissabores com a Sky ao mudar de endereço. Foram mais de dois meses para que a empresa fizesse a nova instalação, período em que marcou e não cumpriu atendimentos técnicos.
Cancelar o serviço? Só se pagasse multa. Os desrespeitos continuaram com espera na linha para ouvir desculpas esfarrapadas e agendamentos descumpridos. Mas a conta de R$ 300 chega direitinho, mensalmente.
Outra consumidora escolheu contratar a TVA ao alugar um apartamento e foi induzida a adquirir o combo de TV por assinatura, acesso à banda larga e telefone para que a mensalidade pesasse menos no orçamento.
Embora tenha comprado um pacote, as instalações foram feitas isoladamente, em três dias. E, para sua surpresa, a TV a cabo veio com ponto adicional. Quando reclamou, sofreu com artifícios da operadora que a lei do SAC se propunha a banir: sua ligação foi passada para vários atendentes, esperou muito tempo na linha e teve de refazê-la algumas vezes.
Ao final, foi informada de que teria de entregar o receptor do ponto extra -que não contratara- na empresa. Algo como ser obrigada a devolver um cartão não solicitado à agência bancária.
A arquiteta S.M. também se incomodou muito ao tentar, sem sucesso, cancelar a assinatura da Net. Recebeu oferta de 30% de desconto, que não aceitou. Foi combinado, então, que os aparelhos seriam retirados, mas não foram. Semanas depois de a operada assegurar que havia cancelado o serviço, chegou nova fatura.
Esses são apenas alguns exemplos de como as empresas tratam seus assinantes, o que poderá até piorar, porque as teles terão, em seu domínio, telefonia, TV a cabo e acesso à banda larga. Ou seja, mais poder com pouca concorrência.
Dificilmente, então, melhorarão a programação, hoje entediante para quem contrata o serviço, pois os filmes se repetem com intensidade irritante. Os melhores filmes e jogos de futebol só são disponíveis por "pay-per-view" - comprados à parte. Ao mesmo tempo, cresce a quantidade de comerciais nas emissoras pagas.
Há muitas queixas de demora na visita técnica, de cobranças indevidas, de dificuldade para fazer reclamações por telefone e de falhas nos combos.
Nada diverso do que ocorre no acesso à banda larga prestado pelas teles, que é lento e sofre frequentes interrupções.
Má perspectiva para os assinantes, que podem esquecer o sonho de bons pacotes por preços mais competitivos. Também não devem apostar em melhores serviços.
Com a troca de controle da TVA e da Net, respectivamente, para Telefônica e Telmex (Embratel), haverá apenas mudanças de razões sociais do duopólio.
A Anatel deveria, ao menos, cobrar uma transformação radical nas relações com os consumidores para autorizar as alterações de controle acionário.
As operadoras são tão semelhantes, e atuam de maneira tão similar, que os brasileiros, provavelmente, só tenham na TV paga a opção de trocar seis por meia dúzia. Mais do mesmo, portanto, em preços, em serviços e em qualidade.
Artigo da advogada Maria Inês Dolci, especializada em direito do consumidor e coordenadora institucional da ProTeste Associação de Consumidores. Publicado hoje na Folha.
10 comentários:
Recordar é viver.
Ao ser lançada na década de 80, a TV a cabo tinha o mesmo peso no orçamento que tem agora, não tinha propagandas e distribuia uma revista impressa mensal.
Hoje tem propagandas, vende internet, telefonia, sumiu a revista e custa a mesma coisa.
Emagreceu a lista de TVs abertas que distribui, a NET boicota a Record News, por exemplo, cobra pela BBC e DW e o atendimento é esse horror todo.
Cada vez que falo com eles me sinto roubado.
O resultado é que gasto meu tempo com outras coisas e menos me motivo a usar essa droga, saldo positivo portanto.
Tenho esta porcaria desde 1997. Antes, na NET, hoje na Sky. Tudo que a advogada disse é verdadeiro. A TV fechada não era grandes coisas e, hoje, virou um lixão. O mais lastimável de tudo é que, há vinte anos atrás, dizia-se que nela não haveria comerciais e que as assinaturas manteriam os canais. Hoje, é propaganda de papel higiênico, desinfetante, sabão, sabonete, e por aí vai. Verdadeiro conto do vigário. Só fico nela porque não há opção.
"No futuro existirão 500 canais de TV...
mas nenhum que preste..."
Bart Simpsom
Interessante que o artigo tenha sido escrito por uma advogada e, ao final, não se revela a culpa por todo esse estado de desrespeito ao cidadão.
Enquanto o Judiciário continuar tratando com benevolência as operadoras de telefonia, as empresas de TV a cabo, as concessionárias de serviço público etc, o que se verá é isso: desrespeito, com os auspícios do poder judiciário.
Quase que invariavelmente, a coisa acaba funcionando assim. A propaganda, exaustiva, te oferece tudo de bom, maravilhas, o paraíso na Terra, algo que "na hora do vamo vê", quase nunca é entregue.
Acho que tem razão o Anônimo das 11:06. Paradoxalmente, a péssima qualidade da programação das nossas Televisões nos dá a oportunidade de desligarmos os aparelhos e ocuparmos nosso tempo com algo mais nobre: a leitura de um livro, por exemplo.
Na semana passada, 26/10, postei o seguinte comentário no blog de Rodrigo Viana, Escrevinhador:
"De nada adianta regulamentar se o governo é fraco ou não tem vontade política de fazer valer o que ele regulamentou. Veja o caso do atendimento telefônico ao consumidor. Após a regulamentação a maioria deles piorou muito, é pegadinha em cima de pegadinha, o consumidor é feito de bobo pelas centrais de atendimento, seja de bancos, sites de venda pela internet, ou operadoras telefônicas.
Estas são as piores de todas, além de oferecerem um serviço de péssima qualidade a preços aviltantes praticam o roubo puro e simples. Contratei um serviço de acesso por GSM e a 6 meses me aparecem valores referente serviços que não usei e simplesmente não me oferecem explicação razoável, afirmando apenas que tenho a obrigação de pagar. Inclusive, fiz uma experiência de não usar o serviço durante um mês e mesmo assim arranjaram um “serviço” que me custou R$ 5,00 além do valor normal fixo. São valores pequenos (em 6 meses somam pouco mais que R$100,00) e muitas vezes é desgastante contratar um advogado para acioná-los judicialmente. Mas, se isto ocorre com a maioria dos clientes (e deve ocorrer), imagina a fortuna que esses pilantras embolsam."
Vai aí uma pequena parte do texto
intitulado "Governo paga pelo que poderia ser de graça" de João Brant e Veridiana Alimonti (do Observatótio do Direito à Comunicação)e que motivou meu comentario acima:
" O Governo Federal vai encaminhar ao Congresso a Medida Provisória que cria um regime especial para implantação de redes de telecomunicações no país até 2016. Em outras palavras, vai subsdiar com dinheiro público a compra de equipamentos e insumos necessários para a implantação de redes de fibra ótica. Em contrapartida, vai exigir que as empresas destinem parte de seus orçamentos para regiões fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília, áreas mais lucrativas. Segundo o próprio governo, a isenção pode representar renúncias fiscais de R$ 1,2 bilhão por ano.
A medida representa o investimento de uma enorme quantidade de dinheiro público para que as empresas façam o que deveria ser sua obrigação. Mais do que isso: concretamente, a estratégia atual implica recursos públicos a fundo perdido para a construção de redes totalmente privadas por empresas que não têm dificuldade financeira – já movimentam mais de 200 bilhões por ano – e que reverterão esses investimentos públicos em lucros privados.
Regime público
Se o serviço de banda larga fixa nas grandes áreas fosse prestado em regime público, o Governo Federal poderia impor obrigações de universalização às empresas de telecomunicações. Isto é, faria por meio de um decreto, sem ônus para os cofres públicos, aquilo pelo que hoje se dispõe a pagar. E poderia dizer concretamente onde deveriam ser os investimentos, sem ficar à mercê das estratégias comerciais das gigantes do setor e de contrapartidas pífias."
O resto do texto está lá no blog Escrevinhador/Outras Palavras.
ESTOU PASSANDO MAL COM A OI VELOX. ESTÁ EM ANDAMENTO PROCESSO JUDICIAL QUEE AINDA NÃO FOI CONCLUÍDO E A OPERADORA CONTINUA COM O PÉSSIMO SERVIÇO EM SÃO GONÇALO - RJ. MAS NÃO FALTA SERVIÇOS CLANDESTINOS COM O GATO NET E AS LAN HOUSES. QUEM TOMA CONTA DISSO?
Dom Dadeus, agora, acertou na mosca.
Por uma justiça laica, mas sem preconceito, imparcial, séria e honesta.
Por uma justiça sem juizes desonestos que continuam a receber sem precisar trabalhar.
Por uma justiça que afaste os juizes suspeitos de terem cometido crimes.
Os progressistas viviam reclamando que as Organizações Globo dominavam a NET e a Sky. Devem estar comemorando, agora que a Globo deixou de ser acionista majoritária em ambas, sendo substituída pela News Corp na Sky e pela Telmex na NET.
Um esclarecimento: a Record News está em alguns pacotes em algumas cidades. O problema é que, pelo menos no Rio de Janeiro, é vendida como canal a la carte, sendo oferecida sem cobrança adicional apenas no pacote maior: o Net Top HD.
Acho um absurdo isso. E o pior de tudo é que quanto mais se cava, mais sujeira se encontra.
E honestamente, há muito tempo perdi a esperança de que o governo pudesse fazer alguma coisa por nós. Cada vez mais dá pra perceber que são as empresas quem comandam o país. Triste.
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