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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Obama fará qualquer negócio para se reeleger



Obama prepara guerra com Irã


A administração Obama anunciou duas semanas atrás que um desastrado vendedor de carros usados iraniano-americano conspirou com um agente do governo americano que se fazia passar por representante de cartéis de drogas mexicanos para assassinar o embaixador saudita em Washington.

O anúncio suscitou reações altamente céticas de especialistas de todo o espectro político aqui.

Mas, mesmo que parte dessa história se revele verdadeira, o tratamento dado a acusações desse tipo é inerentemente político. Por exemplo, a comissão sobre o 11 de Setembro do governo investigou as ligações entre os atacantes e a família reinante saudita, mas se negou a trazer a público os resultados.

A razão disso é óbvia: existe sujeira ali, e Washington não quer criar atritos com um aliado-chave. E não esqueça que se trata de cumplicidade com um ataque em solo americano que matou 3.000 pessoas.

Contrastando com isso, a administração Obama deu grande destaque à especulação um tanto quanto dúbia de que "os mais altos escalões do governo iraniano" teriam tido envolvimento com a alegada conspiração. O presidente Obama então anunciou que "todas as opções estão sobre a mesa", o que é um conhecido código indicativo de possível ação militar. Trata-se de um discurso extremista e perigoso.

O professor da Universidade de Michigan Juan Cole, respeitado estudioso do Oriente Médio, aventou a hipótese de Obama estar procurando um confronto militar para ajudá-lo a se reeleger, diante de uma economia estagnada e do alto índice de desemprego. É possível, com certeza. Lembre que George W. Bush usou o período que antecedeu e preparou a Guerra do Iraque para conquistar as duas Casas do Congresso na eleição de 2002.

Ele nem precisou partir para a guerra. O período de preparação dos espíritos para a guerra funcionou perfeitamente para ele alcançar sua meta principal: todos os problemas mais importantes para os eleitores - a recuperação sem empregos, a seguridade social, os escândalos corporativos - sumiram do noticiário durante a temporada eleitoral. Os assessores do presidente Obama com certeza entendem essas coisas.

É claro que essa especulação mais recente, dando a entender que pode levar a uma ação militar, pode ser apenas parte da preparação de longo prazo para a guerra contra o Irã. Uma vez que isso é feito, é difícil impedir a guerra de acontecer; e, uma vez lançadas essas guerras, elas são ainda mais difíceis de concluir, como demonstram dez anos de guerra inútil no Afeganistão.

É por isso que iniciativas internacionais para fazer recuar a marcha em direção à guerra, como a proposta de troca de combustível nuclear feita por Brasil e Turquia em 2010, são tão importantes.

Recentemente o governo iraniano se propôs a parar de enriquecer urânio se os EUA fornecerem urânio para seu reator de pesquisas médicas, de que precisa para tratar pacientes com câncer. Esse urânio não poderia ser usado para armas.

O Brasil é um dos poucos países que têm a estatura internacional e o respeito necessários para ajudar a desativar esse confronto. Só podemos esperar que ele faça mais tentativas de poupar o mundo de mais uma guerra horrível.

Artigo do economista Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, em Washington. Publicado hoje na Folha

3 comentários:

Ary disse...

O importante não é vencer uma guerra rapidamente, e sim prolongá-la. Se os americanos quisessem poderiam ter liquidado a fatura em seis meses (tanto no Iraque, quanto no Afeganistão). Ocorre que eles precisavam de tempo para poder destruir toda a infraestrutura do país, bem como, conforme acordo com a indústria bélica, despejar o maior número possível de mísseis nos territórios. Claro que, depois, os próprios americanos se encarregariam de construir pontes, estradas e prédios. É para isso que servem as guerras econômicas: gerar dividendos, ainda que à custa de vidas. O Brasil tem estatura mas não tem a bomba. Precisamos da bomba! Por isso eu sempre digo: Que falta faz a União dass Repúblicas Socialistas Soviéticas! Dúvido que os terroristas americanos fizessem 1/3 do que fazem.E pensar que a esquerda mundial se regozijou com a queda da URSS, imaginando que os trabalhadores poderiam assumir a gestão do que sobrasse. Quanta ingenuidade!

Nelson disse...

Creio que você tem razão, Ary.

Por isso mesmo, olho com discordância quando alguns analistas de esquerda falam que os EUA se envolveram no "pântano do Iraque"; que perderam a guerra lá, no Afeganistão, no Vietnam.
Creio que não é bem assim. A nação estadunidense, sem dúvidas, perdeu. Porém, o complexo industrial-militar segue empilhando lucros e mandando, no país, e em quase todo o mundo.

Nelson disse...

Creio que é um tanto ingênua essa visão do Weisbrot de que o Brasil tem "culhões" para evitar o confronto Irã-EUA.
Ainda fico com a opinião de Noam Chomsky. Para ele, a chance dos países menores e do Terceiro Mundo escaparem às garras da águia ou mesmo de minorarem seu sofrimento sob as mesmas, está ligada à capacidade do povo estadunidense de opor-se com decisão à política externa predatória de seu governo. E, pelo que vemos, esta capacidade é bastante pequena, atualmente.

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