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domingo, 28 de agosto de 2011

O vaidoso Lars von Trier e o filme Melancolia



Seria relativamente fácil – para um profissional experiente - fazer um filme sobre o tema da melancolia. Vários autores e intelectuais já trataram do assunto, de Shakespeare a Walter Benjamin, de Dürer ao nosso escritor pedestre Moacyr Scliar, e tantos outros, por muitos séculos.

A filosofia, por sua vez, sempre teve a melancolia como objeto de reflexão (Freud pegou a coisa - desânimo/autopunição - já muito analisada/conceituada). Lars von Trier, o cineasta dinamarquês, deixou de lado tudo o que já se escreveu e pensou (mal) sobre a-depressão-como-julgamento-do-mundo, apelando para um tratamento astrológico, digamos assim, no seu filme “Melancolia”. 

Parece que o argumento parte da leitura do horóscopo diário, feito por duas irmãs. Uma delas leva uma vida burguesa ao lado do filho e do marido rico, outra, deprimida, vê no casamento uma fórmula de empanar mais o seu espírito turvo e safar-se do mal que a deprime. Um belo dia - parece - elas lêem no jornal que um planeta chamado Melancolia está prestes a se chocar com a Terra, o que seria o fim do mundo. A burguesa Claire, se decompõe e desaba, a outra (Justine), acha o seu eixo existencial e aceita placidamente o destino astrológico que o caprichoso movimento cósmico lhe reservou. Lars Trier disse em Cannes que o seu filme tem "um final feliz" – o fim do mundo. Disse também entender e simpatizar com Hitler, e que o nazismo era a sua praia, dele, Trier.

Já se vê que o cara é um irresponsável, fanfarrão e mitômano. Não hesita em dizer e fazer disparates para chamar a atenção do público. Assim, “Melancolia” situa-se na mesma linha moral do comportamento político do seu diretor. Um filme assumidamente niilista, sem comprometimento com nada (a não ser com a própria vaidade do autor), enredo pobre e raso, porém pretensioso. O fundo musical wagneriano (prelúdio da abertura de Tristão e Isolda) visa dar ares de complexidade e espessura à farsa e ao embuste da obra final.

O roteiro caótico procura alguma criatividade (sem êxito) ao pontuar pequenos enigmas inúteis ao longo da narrativa quando cria um personagem (pai das duas moças, Justine e Claire) que coleciona colheres de prata no bolso e jovens amigas de nome Betty. Ou quando mostra a mãe das duas atormentadas protagonistas como uma mulher insociável e grosseira. Mas nada disso conta na trama que não leva a lugar algum.
Trier quer contar que nada faz sentido mesmo, nem mesmo o seu próprio filme, que um simples esbarrão de um planeta desorientado pode acabar com tudo neste mundo esvaziado de objeto.

Enquanto isto, nós perdemos o nosso tempo em duas horas de filosofia de botequim de um nazistinha retardatário e boquirroto.                  

13 comentários:

Fernando disse...

Se os filmes de Lars von Trier são um porre, Lars von Trier é um porre de saquê vagabundo contaminado pela radiação de Fukushima.

Anônimo disse...

Hehehehehe...

Ocorreu-me um causo, que corre à boca-pequena, em certa paróquia guasca. Eis que um cidadão, homem de bem, coletou certo numerário, dentre seus pares, a fim de escrever um livro que desnudaria as mudanças sociais e políticas do período pós-ditadura, ao menos até meados dos 90, época da dita empulha.

Coisa de um ano após a coleta, um dos colaboradores telefona, preocupado, para o antes eloquente escritor, a fim de saber se havia ocorrido algum problema de impressão com o livro que recebera, uma vez que nada nele estava escrito, além de uma capa com título. Quem atende, porém, é um lacônico escriba, que lhe confidencia, sério: - "O livro é assim mesmo, não houve erro algum. É que, como nada mudou, não há nada para escrever; logo...".

Giba disse...

picareta nazi, enganador safado

Lucas Jerzy Portela disse...

ou seja: é, como tenho dito, um sub-Tarkovisky

(ao menos não é aquela filme de tese em prol do Feminicidio, do Celibato pos-Marital e das Praticas de Torquemada, de que é feito o Anti-Cristo) -> http://ultimobaile.com/?p=1871

Anônimo disse...

Após tanta BURRICE e contradição (pois o cara brinca e depois TORNA-SE nazista), algo inteligente.

(Respire profundamenbte depois de clicar porque a qualidade do ar melhorará).

Aqui: http://moysespintoneto.wordpress.com/2011/08/29/melancholia/

adelar disse...

Modesto você, hein anônimo moyses?

Rogério Guiraud disse...

Faro Fino (lembram-se?) Adelar, podemos conversar sobre idéias, só para variar?
E com alguma inteligência permitada, por favor.
Como é que eu poderia fazer crítica da obra do Caetano (p.ex), sem deixar-me contaminar pela personalidade (que não aprecio) do artista?
Sabendo que para mim: Wagner, Lars, Caetano, Moysés e até eu somos capazes de, modestamente, pensar e criar algo que mereça críticas corretas.
Se errarmos, compreenda, que a nossa 'obra' pode ser o nosso erro, mas também pode ser o limite superado da minha e da sua compreensão!
Só assim haverá crítica e algum crescimento que todos nós desejamos.
O Filme, eu ainda não vi. E o senhor, já?

Omar disse...

Caro Cristóvão,
Não tiveste sorte com os últimos dois filmes que resolveste comentar no blogue.
De minha parte estou cotando na internet a coleção do Werner Herzog para rever.
Filmes muito bons, no geral, mas que dão um sono danado...
Abraço

Anônimo disse...

Não era Moyses, de modo algum. Era eu, Falstaff.

Anônimo disse...

Cristóvão,

não sei se predeste teu tempo para ler o que disseram do teu post: http://miltonribeiro.opsblog.org/2011/08/30/modesta-reflexao-sobre-a-arte-de-ver-filmes/

De minha parte, aprecio tuas críticas.

Já o detrator não conseguiu perceber o niilismo do Trier, porque compartilha da inconsequencia...

valeu!

rafael disse...

...e tem gente que até hoje não entende porque é que o fato de o CPC da UNE ter sido queimado durante a ditadura não engendrou em um menor número de pessoas desejando ser revolucionárias através do contato com as artes. Porque toda arte é política, inclusive quando não usa os conceitos cujas obrigatoriedades em discursos alheios os leitores rasos da auto-entitulada esquerda política tanto amam defender; a ponto de às vezes perder a capacidade de comunicar com seus "diferentes" (e o que são seus diferentes? Ora, o mundo todo, pois todas as pessoas são diferentes, não há unidade no modo como vivemos nossos afetos, do contrário não podemos sequer citar Freud, quem dirá os/as melhores seguidores/as de suas obras). Vejo na crítica deste filme - ela sim, mais niilista, pessimista e sem saídas do que o filme poderia ser - as mesmas críticas impetradas pela esquerda academicista à filosofia da diferença: se não fala em luta de classes, logo, é instrumento de alienação. Ou pior: é perda de tempo. Enquanto isso Lars Von Trier, dentre todos os artistas políticos por aí, vai causando mudanças nos olhares das pessoas que com sua arte entram em contato.. Certamente causando mais mudanças do que causam em toda a sua vida ativistas seculares que se limitam a reproduzir e distribuir panfletos...

Anônimo disse...

(jborges)

Vocês leram (ouviram?) o que o diretor disse?

"A única coisa que posso dizer é que pensei ser judeu por um longo tempo e era muito feliz em ser judeu. Então conheci [a diretora judia] Susanne Bier e, de repente, não estava mais tão feliz em ser judeu. Isso foi uma piada. Desculpem. Mas acabou que eu não era judeu. Se eu fosse judeu, seria de segunda geração, mas, seja como for, eu realmente queria ser judeu - e então descobri que era nazista porque minha família era alemã. E isso também me trouxe certo prazer. Então, o que posso dizer? Eu entendo Hitler. Acho que ele fez coisas erradas, mas posso imaginá-lo sentado em seu bunker. Eu acho que entendo o cara. Ele não era o que poderíamos chamar de um bom sujeito, mas, sim, eu o entendo bastante e simpatizo com ele. Mas esperem aí! Eu não sou a favor da Segunda Guerra Mundial. E não sou contra judeus. Nem mesmo contra Susanne Bier. Sou a favor deles, mesmo que Israel seja um pé no saco. Como escapo desta última frase? Tá bom, eu sou nazista".

Caramba, o cara está sendo irônico com as perguntas atravessadas de repórteres mal pautados e boiando. Deixem de melindre. Feil: acho que tu não entendeu nadado filme. Acho que, magoado pela "declaração" "anti-semita" nem deve ter visto o filme e fez a crítica baseadanoutras críticas. Astrologia (nada passa perto de astrologia no filme) e astronomia não são a mesma coisa, ok? E, no filme, o planeta se aproximando, é um simbolismo de qualquerr fim inevitável (doença física, mental, espiritual etc). Bem simples a idéia mas bem aplicada, impactuo todos no cinema e, pra mim, já explorada no filme "Sacrifício", de Andrei Tarkowski. Teu blog é muito bom, mas a tua crítica...
abraço

Guga Türck disse...

Achei o filme sensacional!

Abraços.

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