quinta-feira, 8 de julho de 2010
Um dia de verão, com Anita O'Day
Esse pequeno vídeo com a grande cantora de jazz Anita O'Day é também um documento de época precioso. Trata-se de um olhar etnográfico, eu diria malinowskiano, sobre a classe média estadunidense na curva de ascenso da grande acumulação e consumo, em pleno governo republicano de Dwight D. Eisenhower e Richard Nixon, no pós-guerra e Guerra Fria, 1957.
No Brasil, o presidente era Juscelino Kubitschek de Oliveira, um descendente de checos-ciganos (hoje, estamos prestes a eleger uma descendente de búlgaros, para desespero da direita).
Vejam que há um certo clima de enfado quando Anita começa a cantar. Alguém, inacreditavelmente, lê, parecendo querer agredir a grande jazzista branca. Outros comem salsichas, lambem sorvetes, mascam chicletes, bebem, sentam com desleixo e tédio. Um sujeito veterano paquera e bebe, um clérigo esfrega as mãos pensando sabe-se lá em quê. Poucos negros, acho que nenhuma negra. Alguns já portam gadgets, filmadoras para registrar o momento, hoje, uma obsessão epidêmica que desafia qualquer conjugação verbal no presente do indicativo.
Anita está acompanhada por um trio, dois brancos e um negro no piano, não deu para ver se é o grande músico canadense Oscar Peterson, que tinha um trio e foi com quem Anita O'Day deslanchou depois de um início de carreira sempre interrompido pelo uso de drogas e encharcado de álcool. Anita é uma espécie de precurssora da Amy Winehouse, só não era judia e alcançava um registro vocal bem menos grave que Amy. Tomava todas, cheirava tudo. Mas morreu com quase 90 anos, em 2006. Pelo jeito, valeu a pena.
Essa apresentação aconteceu em 1957, na aprazível cidade portuária de Newport, Rhode Island, no meio do caminho entre Nova York e Boston.
(Sugiro que ouçam com fones de ouvido.)
Não sei qual direita está deseperada com a eleição de Dilma. Pelo que ando vendo, a direita inteira está com ela, no movimento mais curioso e bizarro que a história política brasileira já testemunhou.
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