
A luta política foi levada para dentro do Estado e é arbitrada por uma única pessoa
O potencial destrutivo de um modelo que é baseado na ideia de convivência numa "comunidade fraterna", onde todas as demandas são consideradas legítimas e o Estado arbitra os ganhos de cada classe, é bastante alto. "O Lula está ameaçando a todos com sua atuação. Vamos entrar num conflito de todos contra todos depois do seu governo", disse o cientista político. Na sua avaliação, nem a candidata do presidente à sua sucessão, Dilma Rousseff (PT), nem qualquer outro postulante à Presidência, governista ou oposicionista, tem condições de manter essa conjunção de forças. E essa não é uma construção em que basta ter a ajuda de Lula nos bastidores: é necessário o seu protagonismo.
"O modelo é de uma fragilidade espantosa. É uma peça de gênio que não permite que o autor descanse nunca", afirma. A figura invocada por Werneck Vianna é a do equilibrista que mantém os pratos sobre as varetas e tem que permanentemente girar as varetas para que os pratos não caiam. O estrago seria menor, segundo ele, se Lula assumisse outro papel, o de um "grande prestidigitador" que mantivesse um mínimo de contraditório na sociedade enquanto incorpora "políticas sociais de verdadeiro alcance". Isto é: se deixasse de nivelar interesses e conflitos de classe.
O modelo Lula de desenvolvimento é produto de aproximação progressiva com a "tradição republicana brasileira", que admite "a prevalência do Estado, do público, como uma forma do todo subsumir as partes, definindo o destino das partes" e concebendo a sociedade como uma "comunidade". Nela, todos os interesses são legítimos, "inclusive os da alta burguesia, desde que cumpram uma agenda social". O exemplo é a pressão direta exercida pelo presidente Lula sobre o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, com indicações de que obrigações a empresa deveria assumir.
"O Estado tem o papel protagônico", afirma Werneck Vianna. Esse protagonismo não foi um cálculo, mas o produto de "acidentes e incidentes de percurso", ao final dos quais foram legitimadas e incorporadas "tradições de um repertório antes estigmatizado", como, por exemplo, o organismo sindical corporativo. O ciclo de desenvolvimento do governo Lula está sendo conduzido, portanto, sob uma tradição renegada não apenas pelo PT, mas pelo próprio PSDB, na constituição desses partidos, reabilitada na crise e mantida sob o gênio de Lula.
"A luta política foi sendo trazida para dentro do Estado e tudo hoje é arbitrado por uma única pessoa. Só existe um político hoje no Brasil e ele se chama Luiz Inácio Lula da Silva", disse Werneck Vianna. Disso decorre que a política fica sem espaço na sociedade.
O "triunfo da ordem burguesa" sob o governo Lula não foi prosaico, diz o cientista político, mas "grão-burguês". Recuperou funções do Estado tradicional - inclusive a de mediador da luta política - e símbolos do passado, como o do Brasil-Potência, que remetem ao nacional-populismo de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e ao nacional-desenvolvimentismo de Geisel. No caso do atual governo, "é um nacional sem popular, abduzido pelo Estado", disse Werneck Vianna.
"Do Bradesco, passando por Paulo Skaf e Blairo Maggi, indo para as grandes agências como Finep e CNPq, e terminando na massa de despossuídos desse país, todas essas forças passam pelo Estado - e são capilarmente articuladas pela intelectualidade, via Anpocs, ONGS, sindicatos etc", disse o cientista político.
Para a esquerda, à qual ele se filia, é necessário fortalecer a esfera pública. "É preciso que os partidos políticos se autonomizem e construam uma esfera pública rica, mesmo que isso importe a desaceleração de algumas políticas", disse.
Artigo da jornalista Maria Inês Nassif, publicado hoje no diário Valor.
Mas certamente na opinião da ilustre (quem?) jornalista, qualquer modelo seria ótimo com Serra na cabeça. O PIG tem muitas caras.
ResponderExcluirVai te informar anônimo imbecil. A Nassif é irmã do Nassif, tem uma formação sólida e para tua decepção é de esquerda. Ela está apenas reportando a opinião do Werneck Vianna um dos grandes intelectuais brasileiros. Tu pode ser lulista roxo mas não fique burro e nem perca o espírito crítico, seu bolha.
ResponderExcluirRodrigues, não adianta criticar, o cara é religioso.
ResponderExcluirRodrigues,
ResponderExcluirvocê tem razão em criticar o anônimo, todos sabem que a jornalista é de esquerda. Mas mudando a pergunta, o Werneck propõe o que mesmo hem??? Porque filosofar na universidade eu acho lindo, mas vai fazer política no Brasil. E oposição, nós já temos uma que domina a mídia, acho que no blog precisamos de soluções construtivas, você não acha?
O Estado brasileiro sob Lula ainda é, como sempre foi em toda história de nossa nação, um estado dominado pelas forças de direita. Não é, logicamente, o Estado da ditadura militar e dos 8 terríveis anos do (des)governo FHC. Hoje, temos um Estado de direita minimamente civilizado, não é um Estado escandinavo, mas ao menos progredimos em relação ao estado de coisas anterior. Mas, que continuamos dominados pelas forças de direita não há dúvida. A Justiça tem como seu expoente máximo um STF direitista para não dizer de extrema-direita(vide Gilmar "dantas" Mendes), o Legislativo está sob a batuta da dupla Temer/Sarney, e o governo Lula está recheado de direitistas notórios em cargos importantes
ResponderExcluir: Defesa(Jobim), Comunicações (H.Costa),Minas e Energia(Lobão), Agricultura (Stephanes), BACEN que equipara-se a um ministério, (Meirelles).
Assim, não é surpresa alguma o governo Lula penar para aprovar a inclusão da Venezuela no Mercosul, não conseguir aprovar os novos índices de produtividade na área rural, adiar a votação de aumentos iguais para todos aposentados, ver contestado pelo Judiciário o asilo concedido pelo Ministério da Justiça ao cidadão italiano acusado de crimes comuns, quando na verdade seus crimes são claramente de natureza política e, portanto, o asilo é perfeitamente compreensível.
Os mínimos avanços (redução dos juros estratosféricos, mas que continuam elevados demais; Bolsa Família; Prouni; política externa; relativo sucesso no setor econômico), no entanto, não são reconhecidos pela mídia, totalmente dominada pela direita, ou melhor extrema-direita, que apesar de todo o perfil acima traçado não dá descanso ao governo Lula, produzindo factóides um atrás de outro, na tentativa desesperada de minar o governo que melhor administrou o país para a burguesia, que nunca lucrou tanto como hoje (vide os balanços dos últimos anos do setor financeiro e de outros setores da economia).
A dúvida de W. Vianna quanto a possibilidade de o indicado de Lula para a sua sucessão(Dilma ou quem quer que seja) poder governar nesta situação, procede.
No entanto, onde não pode pairar dúvidas entre as forças progressistas e de esquerda é que não há alternativa ao sucessor indicado por Lula, ou melhor há e nós (brasileiros e gaúchos, especialmente) conhcemos muito bem: FHC, Serra, Ieda e que tais.
Rodriguo, tu podes ter razão, mas precisas usar "imbecil" e "bolha" para explicar?
ResponderExcluirFlics