
Último brinde
Bebo ao lar em pedaços,
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz...
Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém.
(1934)
Música
Algo de miraculoso arde nela,
fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar
depois que todo o resto tem medo de estar perto.
Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores explodissem em versos.
(1958)
Ana Akhmátova, pseudônimo da russa Ana Andreievna Gorenki, que nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e morreu em Moscou, em 1966.
Poucas vezes me arrepio ou me comovo. Aos 51 anos, sou meio chato. Mas a surpresa de ler repentinamente Música em teu blog, derrubou rapidamente minhas defesas involuntárias e algo como uma lágrima surgiu depois de anos.
ResponderExcluirÉ um poema belíssimo traduzido para qualquer língua que eu conheça, mas deve ser ainda mais bonito no original.
No túmulo de Shostakovich, está gravada este poema em bronze, abaixo o nome da autora e, abaixo e menor, o nome do maior compositor do século XX.
Obrigado, Cristóvão.
Errata: "É um poema belíssimo traduzido quando para qualquer língua..."
ResponderExcluirМУЗЫКА
ResponderExcluirД. Д. Ш.*
В ней что-то чудотворное горит,
И на глазах ее края гранятся.
Она одна со мною говорит,
Когда другие подойти боятся.
Когда последний друг отвел глаза,
Она была со мной в моей могиле
И пела словно первая гроза
Иль будто все цветы заговорили.
* Д.Д.Шостаковичу
(1958)
Eis o original, Milton.
Divirta-se.
Abç.
CF
Bem, não achei nada divertido, mas o cirílico é bem bonitinho...
ResponderExcluirFiz um adendo em meu post de hoje, chamando o povo para cá.
ResponderExcluirhttp://miltonribeiro.opsblog.org/2009/07/12/mozart-adagio-da-serenata-para-13-instrumentos-de-sopro-k-361-gran-partita/
Obrigada, Cristóvão. Bravo.
ResponderExcluirCom a Mônica Belucci e Sônia Braga de cicerones ...hehehehehe
ResponderExcluirLíndíssimos poemas da terra de Maiacoviski.
ResponderExcluirEsta coisa intangível do poeta expressar nossos maiores desesperanças e verter beleza em cada verso.
Como poeta amadorista e leitor, aplaudo.
Ricardo Mainieri