domingo, 20 de julho de 2008

O amor sagrado e o amor profano, por Ticiano


Esta detestável pintura [acima] representa um velório às margens do Jordão. Raras vezes pôde a estupidez de um pintor aludir com maior baixeza à esperança do Mundo num Messias que brilha pela ausência; ausente do quadro que o mundo é, brilha horrivelmente no obsceno bocejo do sarcófago de mármore, enquanto o anjo encarregado de proclamar a ressurreição da sua carne patibular espera impávido que os desígnios se cumpram.

Não preciso explicar que o anjo é essa figura nua, prostituída na sua gordura maravilhosa, que se disfarçou de Madalena, ironia das ironias, no momento em que a verdadeira Madalena avança pela estrada (onde cresce a venenosa blasfêmia de dois coelhos).

A criança que enfia a mão no sepulcro é Lutero, ou seja, o diabo. Diz-se que a figura vestida representa a Glória no momento de anunciar que todas as ambições humanas cabem numa bacia; mas está mal pintada e faz pensar num artifício de jasmins ou num relâmpago de trigo.

Julio Cortázar (Instrucciones para entender tres pinturas famosas, in “Historias de cronopios y de famas”)

Clique na imagem para ampliá-la.

3 comentários:

  1. Note-se, também, que a manga da figura vestida está pintada em vermelho sangue... Ambições e seus resultados...

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  2. Se fumo pra escreve isso né?
    Este quadro representa a diferença entre amor platonico, idealizado e o amor profano, carnal, e bebê no centro é o cupido, este quadro é o debate ocorrido no periodo do classicismo

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  3. De onde você tirou isso?

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