Correio do Povo só muda a aparência

A partir desta semana o jornal Correio do Povo de Porto Alegre, recém adquirido pela Igreja Universal do Reino de Deus, está com nova programação visual. Mas é só visual, não se entusiasmem.

O CP tem 113 anos de publicação. E agora vem com uma coluna chamada “Há um século no Correio do Povo”. O diário Zero Hora, do grupo RBS, tem uma coluna chamada “Há 30 anos em ZH”.

Assim, o Correinho humilha ZH. Mas poderia ser mais conseqüente ao querer sobrepujar o seu concorrente no RS. Tem tudo para fazê-lo, bastaria querer.

Senão vejamos: o CP pode ser sustentado pelos seus proprietários e patrocinadores, a IURD, instituição religiosa arrecadadora de pulverizadas contribuições e donativos de milhões de fiéis no Brasil todo. Estimativas indicam que a IURD teria mais de dez milhões de seguidores, e quase todos contribuem religiosamente com a Igreja, mesmo em modestas quantias. De qualquer forma, é uma receita segura, garantida pela fé, crescente e que não exige recibo fiscal. A declaração fica a critério da contabilidade terrena e/ou Divina, menos do Estado.

O Correio muda o visual apenas na diagramação. O conteúdo continua reacionário, atrasado, e convencional, informado por uma qualidade sof rível do texto, sem nenhuma luz criativa e ousadia zero. Depois que a IURD assumiu o jornal, melhorou um pouco a edição de fotografia, mas logo voltou à velha mediocridade estética. A capa de hoje está péssima, a fotografia, horrorosa e sem contexto, o que agrava o caso.

Fazer um contraponto à linha editorial chapa-branca da RBS, talvez fosse uma saída inteligente da IURD, até mesmo em se tratando de concorrência comercial, uma vez que hoje cerca de um terço da população do Estado – num cálculo conservador – não está contemplada com o sub-jornalismo praticado pela mídia tradicional.

Não se trata de fazer um jornalismo de esquerda, mas jornalismo, apenas. É o mínimo que se pode exigir.