domingo, 19 de agosto de 2007


Vocês e nós

Vocês quando amam
Exigem bem-estar
Uma cama de cedro
E um colchão especial
Nós quando amamos
É fácil de ajeitar
Com lençóis que bom
Sem lençóis dá no mesmo

Vocês quando amam
Calculam interesses
E quando se desamam
Calculam outra vez,
Nós quando amamos
É como renascer
E se nos desamamos
Não ficamos nada bem

Vocês quando amam
São de outra magnitude
Há fotos fofocas imprensa
E o amor é um boom,
Nós quando amamos
É um amor comum
Tão singelo e tão delicioso
Como ter saúde

Vocês quando amam
Consultam o relógio
Porque o tempo que perdem
Vale meio milhão,
Nós quando amamos
Sem pressa e com fervor
Gozamos e sai
Barata a função

Vocês quando amam
Ao analista vão
Ele é quem avalia
Se o fizeram bem ou mal,
Nós quando amamos
Sem nenhuma afobação
O subconsciente faceiro
Só fica a desfrutar

Vocês quando amam
Exigem bem-estar
Uma cama de cedro
E um colchão especial,
Nós quando amamos
É facil de ajeitar
Com lençóis que bom
Sem lençóis dá no mesmo

Mario Benedetti

Uma modesta homenagem deste blog a todos e a todas que não se cansam de lutar por um País republicano, democrático e participativo – sem parasitas entediados.

Ilustração: Guto Lacaz

Um comentário:

  1. Lindo! Obrigada pela parte que me toca, Feil, mas nós os pobres, estamos no meio dessa guerra, nunca fora dela e a luta política é o último instrumento que nos restou, para irmos construindo meios mais justos de sobrevivência, em sociedade injusta e desigual. Tem uma letra de música que eu gosto muito e cito sempre, porque está sempre na ponta da língua, pra esses que eu sei, são das tucanarias demonistas(sempre cansadas e golpistas e nunca democratas ), hoje no Brasil 2007.

    Diz assim:
    "Meus senhores hoje eu lavo copos
    Faço as camas de todo mundo
    Me atiram um micho tostão e eu logo agradeço,
    Limpo a mão no avental mas eu sei:
    Que um dia eu vou sair daqui.

    Certa noite um grito vai se ouvir
    E vocês vão perguntar: "Quem foi que gritou no cais?"
    Vão me ver lavando os copos e sorrindo.
    Vão perguntar: "Por que é que ela sorri?"

    Um navio de piratas
    Com cinqüenta canhões
    Aporta no cais.

    Vocês vão me dizer, lave os copos menina,
    E um tostão vão me atirar;
    Vou guardar o dinheiro, suas camas arrumar, mas eu sei
    Que nelas ninguém nunca mais vai se deitar
    Só eu sei o que vai se passar

    Nesta noite um estrondo vai se ouvir
    e vocês vão perguntar: "O que aconteceu no cais?"
    Da janela estarei tudo espiando
    Vão perguntar:"O que faz ela ali?"

    Um navio de piratas
    Com cinqüenta canhões
    Tudo vai bombardear

    A alegria de suas caras vai desaparecer
    Porque tudo irá pelos ares
    E quando a cidade estiver toda arrasada,
    Restará de pé apenas este mísero hotel
    "Quem será que da tragédia escapou?"

    E durante a noite vão berrar,
    Perguntando sem parar: "Quem será que vive ali?"
    De manhã, então, eu abrirei a porta.
    Vão perguntar: "Quem é esta mulher?"

    Um navio de piratas
    Com cinqüenta canhões
    As velas enfunará

    No final da manhã, cem piratas desembarcam
    Em silêncio vão avançando
    E um por um de vocês eles vão acorrentar
    E aos meus pés atirar, para depois me perguntar:
    "Quem é que você quer que matemos?"

    Haverá silêncio em todo o cais,
    Quando ele me perguntar:"Quem é que deve morrer?"
    Minha voz então será ouvida: TODOS!
    E quando as cabeças rolarem eu direi: Oba!

    Um navio de piratas
    Com cinqüenta canhões
    Pra bem longe vai me levar"

    Aposto que muitos aqui conhecem essa letram não é vero??? É da Ópera dos Três Vinténs de Brecht. É a canção cantada pela personagem Polly, no dia de seu casamento, às escondidas dos pais, com Mac Navalha.

    Valeu!

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