domingo, 20 de junho de 2010
Jornal do Vaticano atira pedras no escritor José Saramago
Saramago não tinha o direito de incriminar a um Deus ao qual jamais acreditou, diz a Santa Sé
O diário do Vaticano, L'Osservatore Romano, atacou ontem (19) o recém falecido escritor português José Saramago, dedicando-lhe um artigo no qual o define como "um populista extremista de ideologia antirreligiosa ancorado no marxismo".
Um dia depois da morte do escritor, o vespertino da Santa Sé publica um duro obituário sob o título A onipotência (presumida) do narrador assinado por Claudio Toscani, no qual repassa a vida do Prêmio Nobel de Literatura de 1998, que foi muito crítico com o catolicismo.
"Foi um homem e um intelectual de nenhuma transigência metafísica, até o final ancorado numa confiança no materialismo histórico, aliás o marxismo", dispara o artigo.
O texto repassa a produção literária do português, analisando também sua novela O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), uma obra "irreverente" que supõe um "desafio à memória do Cristianismo, do qual não sabe o que salvar".
"Com respeito à religião, sua mente fixada como sempre por uma desestabilizadora intenção de banalizar o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago nunca se abandonou à simplicidade teológica", afirma o artigo.
"Um populista extremista como ele, que se havia encarregado de examinar os males do mundo, deveria ter abordado em primeiro lugar o problema das falhas estruturais humanas, desde as histórico-políticas até as sócio-econômicas, em vez de atacar logo o plano metafísico", prossegue.
O artigo do L'Osservatore Romano assegura que Saramago não deveria "incriminar, inclusive demasiado comodamente e longe de qualquer consideração, a um Deus no qual jamais acreditou, pela via de sua onipotência, de sua onisciência, e de sua onividência".
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Só vou lembrar uma das tantas frases geniais de Saramago, a propósito desse blablablá reativo e de argumentos indigentes da Santa Sé, escrito pelo sub do sub do sub Claudio Toscani:
"Eu não escrevo para agradar ou para desagradar, escrevo para perturbar".

O que mais me perturba não é esse acobertador de pedófilos não ter entendido, p. ex., o "Ensaio sobre a cegueira" - a ponto de afirmar não ter Saramago tematizado as ditas "falhas estruturais humanas" -, mas sim sua ignorância ao reduzir a metafísica a Deus.
ResponderExcluirAliás, "demasiado comodamente" é esperar um sujeito morrer para se dizer o que sobre ele se pensa.
Entretanto, por que cargas d'água isso não me surpreende, vindo do vaticano?
Sim, metafísica é deus, para esses violentadores de crianças e da razão.
ResponderExcluirO crítico a Saramago esqueceu de uma regra básica do cristianismo, perdoar. Se realmente tivesse aprendido, saberia que apenas a Deus, se existir como pensava Saramago, caberá julgá-lo. Em minha opinião, a existência de pessoas como Saramago são importantes, é muito perigoso aceitar cegamente uma fé, seja lá qual for. Em tempo, sou espírita.
ResponderExcluirNem me eskento com mais com o papado!!! O papado está em franca decadência!!! é engraçado ver o papado censurar Saramago por causa de seu marxismo!! E o ke dizer do papado que tem profunda paixão pélo fascismo ??
ResponderExcluirExatamente por ter considerado as falhas estruturais humanas, Saramago foi crítico à ideia de um deus sobre todas as coisas. O que, aliás, é a pior das falhas estruturais humanas, causa de todas as outras falhas: a crença em um deus.
ResponderExcluirEugênio
Milagre!!!! Saramago será canonizado por isso: fez o Marcelo sair da toca! :-)
ResponderExcluirNao entendo como um escritor que se diz Ateu perdeu tanto tempo falando em algo que diz nao existir.
ResponderExcluirA fé é uma opção individual e deve ser respeitada. ninguém, pode provar ou não a existencia de Deus via materialismo. isto por si só já é uma prova.
Sou católico, creio em Deus. Porem não exijo que aceitem minha fé, como tampouco aceito que a infamem.
As religioes nao podem ser motivo para desentendimentos.
A grande virtude de Saramago é que ele conseguia mesmo perturbar e isso é fundamental para qualquer debate intelectual. Muito bom o post.
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