Declaração de abertura do blog Diário Gauche, no dia 7 de abril de 2006

“Diário Gauche” e o galo da madrugada

Na linha do “Barão de Itararé”, o velho Aporelly, que se estivesse entre nós certamente seria um blogueiro batuta, essa denominação “Diário Gauche” é uma piada da piada. Uma blague do chiste. Ou um chiste da blague. Uma paródia, um arremedo com o jornal-caricatura “Diário Gaúcho”, do grupo RBS de Porto Alegre – que materializa a leviandade e a pobreza de espírito das classes dirigentes brasileiras. Simboliza o desprezo com que os imodestos tratam os modestos. O padrão desse pseudo-jornal escancara o que eles consideram que seja o nível das classes populares. Do tipo “café-pra-louco-não-precisa-açúcar”.

E brinca com o vocábulo francês gauche, que significa esquerda, mas também expressa o desajeitado, o inabilidoso, o de pouca prática, etc. Enfim, um blog é tudo isso, algo que brinca, provoca, debocha, faz refletir.

O Érico Veríssimo dizia que “não se deve levar a sério, alguém que se leva muito a sério”. Nós seguiremos essa máxima do grande romancista, também ele, um inconformado, “um gauche na vida”, como poetizou Drummond, e que através da arte procurou denunciar e divertir, provocar e apontar, advertir e brincar.

Sobretudo, estaremos sempre tentando desvestir os véus das aparências para mostrar o caroço da fruta bonita e perfumada. É no caroço que está a essência e a síntese de uma nova vida, e de novos frutos e de novos caroços.

Aqui habita um hegeliano galo da madrugada, aquele que anuncia – antes do próprio sol – um novo dia!

Hoje, portanto, este blog completa dois anos de atividade constante.